quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Lago Inle

O final de tarde foi bem passado na nossa varanda sobre estacas. O pôr-do-sol acentuava a beleza do lago nas constantes mudanças de cores e contrastes. Depois, deambulámos pelo hotel pelos vários locais aprazíveis que pareciam multiplicar-se, acabando num clímax de gastronomia local, no restaurante do hotel.

Ainda embevecidos com todas as experiências recentes, e com os 5 sentidos bem mimados, acordámos num misto de alegria e tristeza. Por um lado a expectativa após tudo o que víramos era enorme, por outro, esperava-nos o último dia na Birmânia!

Mas ainda muito se havia de passar… Para começar a manhã, à custa de um pequeno truque utilizado por nós, que nos torna recordistas de luas-de-mel, ficámos com a melhor mesa do pequeno-almoço. Na varanda entrecortada sobre o lago, calhou-nos a parte mais avançada, e a sensação era a de estarmos na realidade “dentro” do lago! Embora nebulado, o dia apresentava uma luminosidade forte e carregada que realçava o contraste entre as cores escuras do lago e o verde viçoso da vegetação circundante. A vista era magnífica e as canoas que se aproximavam de nós remadas “à perna”, tornavam-na surreal!

A excitação e a ansiedade apoderavam-se de nós à medida que víamos a nossa guia aproximar-se do cais numa canoa típica da zona. Embora soubéssemos parte do roteiro que realizaríamos nesse dia, sabíamos também por experiência própria, que a Birmânia não se contentava apenas em nos agradar. Teimava em nos surpreender, dando-nos sempre mais do que alguma vez ousaríamos pedir.

Foi neste estado de alma que embarcámos e partimos à descoberta da terra, ou melhor, da água, que constitui esse paraíso do povo intha.

Percorremos alguns estreitos canais, onde observámos as actividades primárias que satisfaziam as necessidades básicas daquelas pessoas. As sempre impressionantes ilhas flutuantes que albergavam as plantações de tomates ladeavam os canais, demonstrando a sabedoria milenar daquele povo. Algumas canoas rudimentares, praticamente o único meio de transporte dos locais, carregavam a simpatia destas pessoas que entre um sorriso sincero e um tímido aceno, balbuciava um encantador mingala ba !, - olá !


A paisagem continuava a surpreender-nos. As casas construídas sobre estacas dependuravam-se sobre o lago parecendo querer espreitar os místicos templos semi-abandonados que impregnavam a atmosfera de uma religiosidade fervorosa e sempre presente. Mulheres e crianças espontâneas e inocentes, banhavam-se no lago ou lavavam as suas roupas junto à margem. Homens carregados, sulcavam as margens, transportando o sargaço para adubar os tomateiros plantados nas não menos surpreendentes ilhas flutuantes. Tudo isto nos parecia irreal, mas havia mais…


Continuando o nosso caminho, desembocámos no coração do lago, onde altares budistas com incenso a perfumar a atmosfera, despontavam das águas plácidas. Pescadores que pareciam estar ali há milhares de anos mergulhavam as suas redes colocadas numa armação elíptica de bambu, na esperança de almoçar nesse dia ou de trocar esse precioso peixe no mercado local por um pouco de carne e de arroz.

Sentindo a brisa fresca na cara, prosseguimos até entrar de novo num estreito circuito de canais onde as cenas do quotidiano se repetiam. Mais um aceno retribuído para os pequenos monges que se banhavam naquelas águas e seguimos para viver um verdadeiro momento “Indiana Jones”. No meio da densa vegetação, surgiam stupas perdidas no tempo, que nos lembravam que este lago já era habitado de longa data. Saltámos para a margem e partimos à descoberta daquele templo que mais tarde soubemos tratar-se do Shwe Inn Thein.

O avançado estado de degradação da estrutura parcialmente abandonada, acrescentava algum misticismo ao local e o facto de estarmos sozinhos, provocava-nos a ilusão de sermos os primeiros a passar por ali. Tornámo-nos obsessivos com todos os pormenores porque de alguma forma queríamos gravar todos os momentos na nossa memória.

Depois de percorrermos uma considerável extensão, onde a vegetação se confundia com as stupas abandonadas, chegámos ao edifício principal do templo. Esta ala encontrava-se activa e alguns vendedores locais tentavam atrair-nos com o seu artesanato no corredor que lhe dava acesso. Embora activo, não se pode dizer que esta parte do templo estivesse propriamente preservada, mas com os escassos recursos que possuíam, e com as doações dos poucos turistas que visitavam o local conseguiram “lavar-lhe a cara”.

A simpatia continuava a imperar e alguns monges convidaram-nos para almoçar com eles. O desejo até era grande mas um rápido olhar para as possibilidades do almoço e uma lembrança súbita da dezena de possíveis doenças que esta interessante experiência nos poderia causar, levou-nos à sensata decisão de recusar educadamente o convite. Dada a insistência dos monges, fomos obrigados a aceitar umas bananas e um género de doce, que embora tenhamos provado não chegámos a perceber o que seria.

Continuámos o percurso com a guia que se nos juntou e caminhámos por caminhos de terra batida, ladeados por uma selva de bambus gigantes, onde pelo que parece se “colhia” um pitéu bastante apreciado nesta zona. Aliás não era só nesta zona, dada a qualidade grande parte era exportada para China, onde pelo que percebemos era considerada uma verdadeira iguaria. Falo obviamente das larvas do bambu. Umas anafadas larvas brancas que se desenvolvem no interior das secções da cana de bambu. Quase todas as canas de bambu por que passávamos, mostravam as cicatrizes dessas frequentes demandas pelas desejadas larvas.

O caminho levou-nos até Indein, a povoação mais próxima, onde uma rua única, era palco do mercado local. Havia um pouco de tudo entre alimentos e artesanato onde os bens eram trocados por dinheiro com turistas e por outros bens com as gentes locais. Era curioso observar que se não fossem os turistas, o dinheiro de nada servia nesta aldeia.

Deixámo-nos andar perdidos por ali. Sentimo-nos bem entre os locais, conversando e aprendendo o seu modo de vida, observando os hábitos e a indumentária das várias etnias ali representadas. “Estão a ver, aquelas mulheres, com aquelas vestes escuras e panos coloridos sobre os ombros e sobre a cabeça? são Pa O”, dizia a nossa guia enquanto caminhávamos. Mais à frente, um pescador exibia-nos orgulhoso o resultado da sua “pescaria”, dois peixes dourados de tamanho médio cuidadosamente colocados numa cesta.

Continuando, cruzámo-nos com uma simpática mulher com uma pilha de lenha às costas e que fumava um vigoroso charuto segurando-o no espaço onde lhe faltavam alguns dentes. Entre pujantes baforadas sorria e falava connosco com a ajuda da nossa guia. A nossa guia ofereceu-lhe uma embalagem com fruta, e a mulher continuou o seu caminho visivelmente satisfeita. Nós também…

Voltando à nossa canoa, partimos em busca de mais singularidades deste lago.

Parámos numa “fábrica” de papel e das conhecidas sombrinhas. Vivendo hoje em dia à custa dos turistas que os visitam, preservam desta forma a arte ancestral do fabrico do papel artesanal. Aprendemos as várias etapas desde o fabrico da pasta de papel até à colocação desta pasta decorada com pétalas de flores, sobre uma rede fina que lhe dará a forma final. Depois é só esperar que seque e ali estava o bonito papel que há alguns anos atrás seria a única forma de preservar a cultura e a arte deste povo.

Visitámos também uma fábrica de artigos em prata oriunda das redondezas do lago. Esta fábrica, era uma espécie de centro profissional para jovens desfavorecidos, que encontravam aqui uma forma de aprenderem um ofício e garantirem desta forma a sua subsistência. Com a consciência tranquilizada em alguns artigos que adquirimos, partimos de novo, desta feita em direcção a um restaurante local, magnificamente localizado nuns terraços sobre o lago.

Foi um almoço agradável, onde duas culturas distantes se sentaram à mesma mesa. A nossa e a da nossa guia de etnia Shan. Sintonizaram-se vivências e expectativas partilhando-se formas de vida. Parte da missão daquilo que para nós é uma Viagem estava ali a ser cumprida. Por um lado pelas experiências partilhadas mas neste caso e porque a Birmânia é especial, porque dávamos a oportunidade (não ostensivamente) àquela rapariga de compreender que havia muitas coisas que ela estaria a ser privada na sua vida e a liberdade nas suas mais variadas formas, seria provavelmente a mais significativa.

Foi com bastante comedimento que o fizemos, porque o nosso objectivo, não era hostilizar estilos de vida, mas sim dar resposta à sua curiosidade natural sobre a nossa vida. Não queríamos de forma alguma deprimi-la mas sim alertar mais uma consciência que terá com certeza influência no futuro deste país que esperamos que seja bem mais risonho.

Com a alma e o estômago bem recompensados partimos em busca do local mais venerado do lago: o templo Phaung Daw Oo Paya. Cinco pequenas imagens de Buda, já disformes pelas inúmeras camadas de ouro, colocadas pelos crentes eram as personagens principais de uma lenda imemorial que alimentava espiritualmente o templo. Anualmente realiza-se uma procissão ao longo do lago, onde as estátuas são colocadas numa imponente embarcação. Reza a história que numa dessas procissões a embarcação se voltou subitamente, levando os pequenos budas ao encontro do fundo do lago. Após longas e demoradas buscas, apenas quatro imagens foram recuperadas.

Vendo que eram infrutíferas todas as tentativas de recuperar a quinta estátua, e perante a consternação geral, a população voltou ao templo no intuito de colocar as imagens que se tinham salvo nos respectivos pedestais. Para espanto de todos, verificaram que a quinta imagem estava colocada no seu pedestal original. A partir daí, esta imagem nunca mais saiu do templo, e apenas as outras quatro saem para a procissão anual.

O templo é atractivo e bem cuidado e a bonita embarcação dourada com a sua imponente cabeça de pássaro na proa, que anualmente “carrega” as estátuas, pode ser vista nas suas imediações.

Se o Phaung Daw Oo Paya era o templo mais sagrado do lago, o mais curioso era sem dúvida o Nga Hpe Chaung. Um mosteiro sobre estacas no meio do lago, com mais de 150 anos de história e integralmente construído em madeira. Estas características já seriam por si só bastante apelativas para a realização de uma visita, mas o que torna o mosteiro mais curioso, são os seus simpáticos e acrobáticos habitantes. Não, não estamos a falar dos monges que meditam no local, mas sim nos seus inúmeros gatos, que dão o nome pelo qual o mosteiro é conhecido: “Mosteiro dos gatos saltadores”.

Como dizia o Lonely Planet, parece que os monges também se aborrecem e como forma de lutarem contra o tédio, ensinaram admiravelmente os seus amiguinhos de 4 patas, que diga-se em abono da verdade não são muito obedientes por natureza (eu sei-o por experiência própria e quotidiana!), a saltar entre umas pequenas argolas empunhadas pelos monges.

Assim, que chegámos, o estilo do templo agradou-nos bastante, bem como a colecção de imagens de Buda que lá se encontrava. Mas o que mais nos ficou na memória foram as habilidades saltadoras dos gatos, habilmente coordenadas pelos sempre introspectivos monges.

O dia já ia longo e era tempo de voltar. Tal como prevíramos pela manhã, mais uma vez tínhamos sido surpreendidos, por tudo o que víramos e pela beleza indomável deste lugar, que por mais que tentemos explicar, só vivida será possível de compreender.

Estava na hora de voltar ao nosso idílico hotel. Não havia sítio melhor para melancolicamente recordarmos, já com saudade, toda esta viagem, que nos deixou marcas bem fundas na nossa alma.

São as marcas deixadas por um povo inolvidável, no sofrimento e no afecto que sempre demonstraram connosco. Na dignidade e sabedoria que possui e que nunca teve oportunidade de o demonstrar ao mundo. Pelos locais magníficos, todos eles diferentes uns dos outros. Pelo misticismo criado à volta do atraso no desenvolvimento do país que o transporta para o nosso imaginário de séculos passados e que se mantém ainda hoje bem presente. Por sabermos que não será por muito tempo que será possível visitar um país intocado pela globalização, onde os gestos são espontâneos, os trajes intemporais e onde os rituais se confundem com os livros de história.

Foi sem dúvida uma das viagens mais marcantes da nossa vida!

É inevitável pensar em todos os que nos acompanharam na nossa viagem, quando milhares de birmaneses foram mortos durante as ultimas manifestações.

Parece que o destino teima em não deixar voar os birmaneses, e é por isso que resolvemos partilhar a nossa experiência na Birmânia, para que todos saibam que o que se passa é ultrajante e injusto!

Da nossa parte e esperando que todos estejam bem, desejamo-vos a maior sorte do mundo!

Até sempre Birmânia …

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Próximo destino, Lago Inle

O destino continuava a ser generoso connosco, e desta vez, enviou-nos para um dos locais mais extraordinários à face da terra.

Falo do Lago Inle.

Depois de uma curta viagem de avião de Mandalay, aterrámos no aeroporto de Heho, ansiosos por ver, se continuaríamos a ser surpreendidos, sabendo que provavelmente já era pedir um bocadinho de mais! Não foi, e a descrição que se segue, é prova disso mesmo...

No aeroporto, fomos “recolhidos” por uma guia fantástica, que nos acompanharia nos dias seguintes. A primeira parte do percurso que nos levaria ao nosso destino, foi realizado de carro, e proporcionou-nos tomar contacto com a paisagem das montanhas do Nordeste Birmanês. Dominava a cultura do arroz, onde os agricultores com água pela cintura e de chapéu de palha em bico, tiravam a pulso o seu sustento daquela terra fértil.


Pelo caminho, parámos num bonito mosteiro budista, integralmente construído em teca, que nos deixou saudades. Fazendo uma comparação com a nossa realidade de outrora, o mosteiro funcionava como os nossos antigos seminários, que colmatavam a falta de estudos para quem não os podia pagar. Também ali, os mais desfavorecidos, encontravam um lar, onde podiam estudar e quem sabe, transformar o mundo…

Era um mosteiro vivo. Assistimos ao momento de higiene diária dos pequenos monges, visitámos o seu dormitório e deambulámos pelo templo embalados pelos místicos sons de mantras recitados por voz juvenis. Foi na realidade uma felicidade a nossa paragem por ali, porque tivemos a oportunidade de ser uns intrusos naquela que é a realidade pura e dura daquela gente, sem maquilhagens ou floreados. Era o que era, e era bonito!

Aquele oásis de madeira, significava a esperança num futuro melhor, aqueles pequenos monges, são a geração vindoura que poderá mudar a face deste país massacrado. Era um pólo cultural, de fascinante essência budista, no meio daqueles infindáveis e maravilhosos campos de arroz explorados por inúmeras gerações. Era na realidade uma escola embuída de um espírito inocente e naif que nos despertou um sentimento de esperança. Esperança na educação, que aprendemos desde tenra idade a apreciar e que cremos será a única “arma” que resta a este povo.

Aconteceu-nos um episódio que na realidade nos deixou bastante envergonhados... Enquanto visitávamos o templo e tomávamos conhecimento das actividades dos monges e dos objectivos deste mosteiro que nos iam sendo relatados cuidadosamente pela nossa guia, reparámos nuns quadros onde estavam inscritas algumas pequenas doações. Como achámos que o mosteiro, cumpria uma missão extremamente digna, quisemos também participar. Fui ao carro, propositadamente, visto que lá tinha deixado o dinheiro e trouxe comigo 5 dólares, para fazer anonimamente a nossa oferta. O Monge responsável ao aperceber-se da nossa intenção, não nos deixou colocar o dinheiro na caixa de esmolas e levou-nos para um local à parte do mosteiro, onde nos fez uma longa bênção bem como um agradecimento pelo nosso gesto. Foi aí que nos sentimos muito pequeninos, porque nos apercebemos que aqueles 5 dólares que são insignificantes para nós, proporcionam a aquisição de uma quantidade de bens impensáveis e que são indispensáveis para a sobrevivência daqueles jovens.

Era altura de continuar o nosso percurso em direcção ao lago, e foi o que fizemos com o coração mais reconfortado.

A visão do lago é um postal ilustrado! As águas plácidas e virtualmente estáticas, contrastam com os picos das montanhas que circundam o lago.


O lago possui 22 quilómetros de comprimento e 11 de largura, albergando cerca de 17 aldeias construídas sobre estacas e que são o lar de mais de 70000 pessoas. A etnia dominante nesta região é a tribo Intha, mas encontram-se presentes também o povo Shan, Pa O, Bamar e Mon.

Parece um local saído de um conto de fadas, onde os jacintos de água parece quererem dar-nos as boas vindas à nossa passagem. A visão das aldeias flutuantes é de uma beleza arrepiante, e o exotismo atinge aqui um patamar superior ao da nossa imaginação. Pequenas embarcações a motor e canoas remadas com um estilo muito próprio, com um braço e uma perna simultaneamente, dão vida às “avenidas” espelhadas que se deparam diante de nós.

Por vezes altares budistas espreitam como que saídos das águas a actividade do lago. Aqui tudo é ancestral, tradicional e autêntico. Verdadeiras “quintas” espraiam-se ao longo de ilhas flutuantes fixadas ao fundo por estacas de bambu. Reina a cultura do tomate e dezenas de pequenas embarcações, passam por nós carregadas deste vegetal em direcção ao mercado.

Mal chegámos, colocaram-nos numa pequena e estreita canoa a motor, que nos levaria, para um dos melhores hotéis que estivemos em toda a nossa vida. O Inle Princess Resort.
Pelo caminho e já nas imediações do hotel que ainda não era visível, trocámos do barco onde estávamos para uma embarcação a remos. Disseram-nos que nas imediações do hotel estavam proibidas embarcações a motor para preservar a paz e tranquilidade dos hóspedes! Bem, se isto já nos pareceu irreal, a imagem que se seguiu, foi algo para que não estávamos seguramente preparados. Embalados pelas águas cálidas do lago, foram surgindo algumas silhuetas, perfeitamente integradas na paisagem, que na exacta medida que se aproximavam de nós nos abriam a boca de espanto! Beliscámo-nos, piscámos várias vezes os olhos e soltámos uns extasiados e anestesiados comentários tipo “eh pá, fogo… espectacular… Será que é mesmo o nosso hotel?”.



O hotel, que despontava também ele sobre estacas por cima do lago, em madeira típica da zona e em tons de castanhos escuros, parecia uma miragem. Os quartos eram sofisticados e simples, recorrendo ao artesanato local. A varanda sobre o lago deslumbrante e as zonas comuns de restaurante, bar, etc. de um bom gosto difícil de designar.

Ficámos por ali o resto da tarde, como que a interiorizar as imagens que ainda povoavam a nossa mente e que nos pareciam ainda tão surreais.

Não tínhamos ainda percebido o que tínhamos feito para merecer tal sorte!



segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Mingum e Amarapura

No dia seguinte, marcámos uma excursão a Mingun, pelo que de manhã bem cedo, o nosso guia apanhou-nos no hotel e levou-nos até ao “porto” de Mandalay. Aí apanhámos uma pequena embarcação privada, com umas “majestosas” cadeiras no convés e com uma cobertura de colmo, que acalmavam o ímpeto solar. Depois de quase uma hora a navegar nas águas calmas do Ayeyarwady, visualizamos o imponente templo de Mingum. Não fosse a morte do rei Bodawpaya e o terramoto de 1838, que provocou aqui bastantes estragos, e este bem poderia ser neste momento o maior templo do mundo!

Vemos também o bonito templo branco Hsinbyume que dá corpo à capa do livro do “Lonely Planet”. Não sabíamos que o íamos encontrar aqui, mas saímos logo mais confiantes e convencidos que tínhamos acertado em escolher aquele lugar para visitar.

Existia alguma agitação quando aqui chegámos. O movimento dos barcos locais e de alguns turistas fazia-se sentir sem se tornar opressivo.

Num agradável passeio, percorremos a “marginal” de terra batida que ladeava as margens do rio. Era nesta rua, que se iam seguindo os pontos de interesse. Começamos pelo templo de Mingum que tivemos a oportunidade de subir. Através de um caminho pouco ortodoxo, bastante destruído e inclinado, fomos andando até chegar ao topo daquele “monstro”. A vista do topo era maravilhosa, avistava-se a paisagem ribeirinha e atrás a vegetação tropical, dava um colorido especial àquele momento. O esforço daquela subida temperada com uns potentes raios solares, foi amplamente recompensada.

Após descermos e de nos perdermos numas comprinhas, continuámos o nosso caminho ao longo do rio. Encontrámos em seguida “apenas” o 2º maior sino em funcionamento do mundo! Para o maior templo do mundo, exigia-se um sino em conformidade!!! Este impressionante sino em bronze de 90 toneladas, foi fundido em 1808, na intenção de ser colocado no topo do templo de Mingum. Nunca foi colocado porque o templo nunca foi acabado, e o terramoto acabou com qualquer intenção de o fazer, as rachas que rasgam o templo de alto a baixo, não deixam margem para dúvidas.
Continuando, chegámos ao bonito templo branco de Hsinbyume, representativo do místico monte Meru. Os sete terraços ondulados que circundam a stupa central, representam as sete cadeias montanhosas que rodeiam o monte Meru. Embora o templo também tenha sido bastante danificado com o terramoto de 1838, foi completamente restaurado poucos anos depois.

Depois de alguns dias com aquela imagem “debaixo do braço”, o local já nos parecia familiar, e esperávamos a todo o instante que um monge passasse numa daquelas inúmeras “ondas brancas”. Não tivemos essa sorte, mas em matéria de imagens de monges não ficámos a perder…

A nossa viagem prosseguiu, com a simpática aldeia como pano de fundo, e no regresso ao barco, observámos com agrado que aquele pedaço de terra, continuava imune à globalização...


Estava na hora de embarcar, e de voltar a Mandalay. Embora não tenhamos tido a sorte de avistar os famosos golfinhos negros do Ayeyarwady, a vida do rio e os rapazes que se divertiam a navegar sobre uns rudimentares bambus foram o suficiente para tornar aquela viagem de regresso mais do que agradável. Para ajudar, fomos presenteados com fruta e uns fritos fantásticos pese embora a desconfiança inicial, que nos alimentaram o corpo e a alma.

Para fugir ao calor, naquelas horas em que este se tornava insuportável, fomos para o hotel refrescar-nos um pouco na piscina e voltámos a sair a meio da tarde, desta vez para visitar em primeiro lugar uma fábrica de folhas de ouro. Estávamos já muito habituados a vê-las, dado que em todos os templos, estes quadradinhos dourados são vendidos aos crentes para que os colem no corpo das inúmeras estátuas expostas. Soubemos que aqui em Mandalay, se encontravam as fábricas daquelas folhas feitas de ouro verdadeiro e que são mais finas do que a tinta impressa numa folha de papel!

A técnica para fazer estas folhas é bastante simples e arcaica e necessita apenas de muito músculo. Folhas de ouro relativamente finas, são cortadas em pequenos quadrados, que vão sendo colocados entre folhas de papel vegetal. Este conjunto de centenas de folhas de papel vegetal e folhas de ouro formam um bloco de pequenas dimensões, que depois de “martelado” durante 4 horas seguidas ?!?, é reaberto. Os pequenos quadrados iniciais de ouro, atingiram após este trabalho, 4 vezes a sua dimensão inicial e a sua espessura, obviamente ficou reduzida na mesma ordem de grandeza. Terminado este processo, recomeça-se tudo de novo sendo estas folhas novamente cortadas e colocadas mais uma vez num bloco. Agora são só precisas 2 horas de marteladas e o efeito é similar ao anterior. Assim, são obtidos aqueles quadradinhos de ouro, vendidos pelos quatro cantos da Birmânia e que dão corpo ao fervor religioso dos milhares de peregrinos.

A nosso pedido, fomos visitar um fabricante de estátuas, porque gostaríamos de materializar o nosso fascínio pela Birmânia de alguma maneira. Em boa hora o fizemos, porque a preços de fábrica (atendendo à qualidade dos artigos), trouxemos 2 budas de dimensões consideráveis (o nosso pesadelo nos aviões que se seguiram), sendo que um deles, todos os dias nos dá as boas vindas assim que chegamos a casa…

Partimos com mais 15 quilos (e não 7 como nos juraram a pés juntos!) para visitar Amarapura, uma antiga capital real e a sua famosa ponte U-Bein ao pôr do sol, um verdadeiro postal ilustrado da Birmânia!

Assente em 1060 pilares de madeira de teca, esta fantástica ponte construída em 1849, encontra-se ainda num óptimo estado de conservação e liga as 2 margens do lago Taunghaman. Ao pôr do sol, para além das condições ideais para umas fotografias transformadas em postais, é quando a ponte se encontra com mais actividade, com os locais a voltarem a casa e com os monges a deslocarem-se entre os templos localizados nas 2 margens do lago. A ponte estende-se por 1,2 quilómetros onde podemos observar os locais a pescar no lago. Depois de percorrermos a ponte de uma ponta à outra, e de nos deixarmos levar pela intensidade daquele momento, deixámos que o sol se apagasse, para que sem sobressaltos aquela fantástica paisagem caísse nos braços de morfeu para um merecido descanso…

Voltámos a Mandalay, não sem antes procurar-mos materializar mais uma vez algo que é uma imagem de marca da Birmânia: as pedras preciosas. A Birmânia possui no seu curriculo a maior safira do mundo com uns impressionantes 17 Kg!Encontram-se aqui fantásticas gemas e pedras preciosas a preços de saldo! Como não somos minimamente entendidos nesta matéria, colocámos imediatamente de lado todas as pedras preciosas que não fossem esmeraldas, rubis e safiras. Mais tarde e porque estas pedras estão descritas por ordem de valor, as esmeraldas, também foram postas de lado! Mesmo assim, e por preços muito convidativos, trouxemos uns fantásticos rubis “sangue de pombo” e umas fantásticas safiras.

A excitação deste dia fantástico, já tinha feito as suas vítimas, e claramente a mais afectada neste dia foi... a carteira…

É caso para dizer, que foi um justo preço a pagar pelas emoções que Mandalay e as suas redondezas nos provocaram, por isso, foi com um sorriso aberto que encarámos o nosso próximo destino: O lago Inle…

sábado, 3 de novembro de 2007

Mandalay... continuação

Partimos em busca dos míticos Moustache Brothers, que ansiávamos há muito visitar...


É impossível visitar a Birmânia e não viver com intensidade toda a situação política e social daquele povo. É impossível não ser solidário com aquelas pessoas. É impossível também para quem está habituado desde sempre a viver em países civilizados, onde o direito à liberdade de expressão é inalienável e intocável, não ficar sensibilizado com a história desta família.

Os Moustache Brothers, são descendentes de uma trupe familiar de ópera tradicional e teatro birmanês, que durante mais de 3 décadas percorreram o país de lés a lés com as suas actuações.

A trupe é composta por 2 irmãos com um farto bigode (daí o nome),Par Par Ley e Lu Maw e pelo primo Lu Zaw (sem bigode). Conhecidos pela sua temerária oposição à junta militar, grangearam um estatuto e uma visibilidade, que lhes permite possuir hoje em dia o único local na Birmânia onde se fala de política e do governo, sempre de uma forma cómica e satírica.

Não se pense por isso, que esta fama lhes proporcionou bem estar e riqueza, bem pelo contrário, em 1996, depois de um espectáculo onde alguns generais da junta foram parodiados por estes temerários… artistas, Par Par Ley e Lu Zaw, foram presos e condenados a 7 anos de árduos trabalhos forçados, onde entre criminosos violentos e perigosos, foram obrigados a partir pedras para as estradas e a cavar valas ao bom estilo do Farwest.

Após os protestos de alguns actores de hollywood , foram libertados após cumprirem 5 anos de pena, onde ficaram impossibilitados ao longo deste tempo de receber visitas da família.

Recebem todas as pessoas a qualquer hora na sua humilde casa igual à de tantos outros birmaneses, com a alegria e simpatia de quem sabe que tem entre mãos uma missão importante a cumprir com o seu próprio país.

Embora estejam proibidos de actuar, e de ser contratados para fazer aquilo que sabem fazer à décadas, a sua tenacidade, levou-os a apresentar uma “demonstração de actuação” sem trajes e adereços, que lhes permitiram continuar “disfarçadamente” a actuar acompanhados muitas vezes de soldados representantes da junta militar munidos de câmaras de filmar.

É por tudo isto que como disse ansiávamos visitá-los porque sabendo da dignidade da sua causa e da mestria com que a concretizam, queríamos também contribuir de alguma forma.

Fomos recebidos de forma efusiva por Lu Maw, que nos pôs imediatamente à vontade, sentando-nos numa cadeira na sua minúscula casa “teatro” onde decorrem as actuações nocturnas que não tivemos o prazer de assistir. Entrar ali, é um tónico, é como retirar a mordaça que há muito nos incomoda e sentir as palavras a percorrer a mente num momento de extâse mal contido. Numa panóplia de metáforas sátiras e piadas Lu Maw, conta-nos todas as injustiças políticas e sociais que o povo birmanês sofre. Fala-nos das regalias de quem pertence à junta militar, do facto de só possuir electricidade dia sim dia não e só à noite, da “infelicidade” de não morar ninguém da junta na sua rua, daí nada estar arranjado e visivelmente degradado, das pessoas que desaparecem misteriosamente e de tantos outros factos repugnantes que constituem o dia a dia da Birmânia.


Sempre com um sorriso e numa atitude deliberadamente provocatória, desaparece por instantes entre a desarrumação de placas com escritos provocatórios, centenas de marionetas e tapetes tradicionais pendurados, cadeiras e todo o género de artigos domésticos, para nos aparecer breves instantes depois com um gigantesco maço de notas na mão. Aproximando-se com um sorriso nos lábios solta “Como podem ver eu sou rico… tenho estas notas todas… Tomem, levem como souvenir… uma, duas, três, querem mais?”. Desconfiámos desta atitude, sabendo de antemão que iríamos ser brevemente esclarecidos. O propósito desta “encenação” era dar-nos conta do que se passou alguns anos antes, onde a Junta militar, trocou de um dia para o outro a moeda do país, e todo o dinheiro que as pessoas possuíam passou de um dia para o outro a valer… zero. Nada de nada. Quem tinha dinheiro em casa e era a maioria da população, de um dia para o outro ficou sem nada.


Melhor maneira de nos mostrar, a forma de actuar da junta militar, não podia haver. Era por esta e por outras, que notoriamente orgulhoso, nos mostrou um quadro com a fotografia de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da paz em 1991 e líder da oposição que se encontra em prisão domiciliária até hoje e que os visitou em 2002, ano em que foram libertados da prisão o seu primo e o seu irmão.


Saímos daquele lugar humilde, com uma lição de vida na bagagem, convictos que será um lugar histórico no futuro, porque o futuro há de ser justo e há-de recompensar estas pessoas, pelo trabalho admirável que fazem pela libertação de um povo amordaçado!

Com o espírito alvoroçado e o coração palpitante, despedimo-nos dos “irmãos do bigode” e dirigimo-nos para o mosteiro Shwe In Bin Kyaung, chamado pelos locais apenas como o “Mosteiro de Teca”.


Este mosteiro secular, composto integralmente por madeira de Teca, é surpreendente quer por ser todo construído sobre estacas quer pelas intrincadas gravuras talhadas na madeira. Aqui respira-se tranquilidade e os poucos monges que se encontram no local demonstram-se bastante afáveis connosco, dando-nos explicações sobre o local. Estamos em pleno “distrito dos monges”, onde centenas de casas com túnicas cor de açafrão não deixam lugar para dúvidas quanto ao fim a que se destinam.


Esperava-nos por fim a agradável piscina do hotel que nos iria aliviar do calor intenso que se fazia sentir e permitir um pouco de descanso neste dia repleto de emoções e que ainda estava longe de estar terminado!


Nessa noite, rumámos ao teatro. Esperava-nos um espectáculo secular, um verdadeiro cartaz cultural desta região.


No pequeno anfiteatro, o espectáculo ia começar. Com uma orquestra tradicional composta por vários elementos em torno de instrumentos rudimentares, sons melancólicos e vibrantes começaram a ressoar. Dançarinas entraram para a sua actuação, que revelaria séculos de tradição, nas suas danças lentas e animistas, onde por vezes apenas um movimento de olhos representa parte da sua actuação.

Em seguida, a mestria dos movimentos aplicados às marionetes, compuseram uma das muitas histórias da Ramayana. Os movimentos das marionetes eram duma realidade impressionante, fruto das muitas possibilidades de movimento de cada marionete. A certa altura, levantaram a parte superior do palco, onde foi possível admirar os artistas que manuseavam as marionetes, e compreender, que aquela arte necessita sem dúvida de muitos anos de aperfeiçoamento para chegar aquele nível!

Satisfeitos com a nossa agenda cultural e com uma pechincha de marionete tradicional acrescentada à nossa bagagem, partimos em busca do restaurante em que tínhamos almoçado e que se localizava nas redondezas. Como se encontrava próximo, partimos a pé, não nos lembrando nós, que há sítios onde a noite é realmente escura! Depois de percorrermos ás apalpadelas algumas ruas circundantes, que não tinham propriamente um ar acolhedor e de nos cruzarmos com alguns grupos de cães vadios, com ar de poucos amigos, lá chegámos ao destino, com o apetite inflacionado por algumas descargas de adrenalina!

Acabávamos ali as nossas deambulações daquele dia fantástico e o melhor de tudo, é que o dia seguinte revelar-se-ia igualmente surpreendente!

Mandalay

À luz da rica história birmanesa, Mandalay é ainda uma criança com uns meros 150 anos. Mesmo guardando o epíteto da última capital real, assistiu apenas a 2 reinados, sendo que o último foi desastroso e culminou com a tomada da cidade pelos britânicos.

A tradição real foi herdada, das muitas capitais reais localizadas nas redondezas e das constantes mudanças que o reino birmanês sofreu. Sagaing, Inwa, Shwebo e Amarapura foram algumas delas e todas estão localizadas a escassos quilómetros de Mandalay.

Na crença birmanesa, Mandalay deve a sua fundação à profecia de Buda, que numa das suas passagens pela Birmânia e após subir à colina de Mandalay, apontou para a sua base e disse que no ano de 2400 da sua fé, nasceria ali a futura capital do Reino. No nosso calendário, o ano 2400 corresponde a 1857, e foi exactamente nessa data que o rei Mindon começou a sua construção, transferindo 4 anos mais tarde a capital de Amarapura para Mandalay.

Hoje a colina de Mandalay, é um local sagrado, com uma enorme escadaria até ao topo, cravejada de templos e locais de culto. Encontrámos também obviamente uma imagem gigante de Buda com o dedo esticado, não no intuito de nos mandar embora, mas representando a sua profecia, que provavelmente motivou a sua fundação.

Para além das magníficas vistas, dado que emerge solitária no meio da extensa planície envolvente, a colina, é um sítio de culto fervilhante, com milhares de birmaneses a acorrerem ao local vindos dos mais recôndidos cantos da Birmânia, transportados por carrinhas atulhadas até ao topo.
Aqui ocorreu um fenómeno engraçado onde uma família inteira de birmaneses, curiosos connosco, nos ficaram a observar e nos fizeram sentir como uns animais enjaulados num circo de província. É que a sua curiosidade era superior à vergonha, e quando percebemos que estávamos a ser observados e olhámos para eles a sucessão de cabeças dispostas em leque não se moveu continuando tranquilamente a observar aquele estranho casal branquinho, de olhos redondos, sem thanaka e com uns trapos “esquisitos” vestidos.
Este curioso episódio, que nos impressionou, levou-nos a pensar, que existirão de facto muitos birmaneses, que nunca tiveram contacto com a cultura ocidental. É que numa análise simples é fácil de perceber, que os agricultores de província, com escassos meios económicos, raramente se deslocam e vivem a maior parte da sua vida nas suas aldeias privados de qualquer tipo de comunicação ou informação e onde não chegam ainda os ventos do turismo. Não existe imprensa estrangeira e a televisão só tem canais birmaneses.

Espero que tenhamos contribuído para alargar os horizontes daquela família, e que lhes tenha ficado uma réstia de curiosidade para saber mais sobre este mundo. Se assim foi já valeu a pena!

Depois da extenuante subida ao topo da colina, apanhámos um riquexó que nos levaria até ao palácio de Mandalay, de visita obrigatória.

O palácio e fortaleza de Mandalay é uma estrutura quadrada com um fosso com 70 metros de largura. Os muros com 8 metros de altura, perfazem mais de 3 quilómetros de perímetro. Rodeado de jardins, o palácio é composto por inúmeros anexos construídos em madeira, que lhe dão um ar exótico e onde nas suas salas semi-desertas, se invoca a história dos 2 monarcas que aqui reinaram.

Após este “banho de cultura”, percorremos as ruas montados num riquexó em busca dum merecido e retemperador repasto. O estado decadente e depauperado das ruas de terra batida, faziam-nos lembrar a cada passo que estávamos num dos países mais pobres do mundo. Foi num oásis de harmonia e tranquilidade, que almoçámos num restaurante com um jardim interior recuperado de uma das casas típicas de Mandalay.

A cozinha birmanesa encheu-nos as medidas e foi com forças retemperadas que saímos em busca dos famosos teatros de marionetas de Mandalay. Vendo que nas proximidades do restaurante se encontrava um desses famosos teatros, dirigimo-nos ao local e adquirimos um bilhete para a actuação nocturna, que se viria a revelar um dos melhores espectáculos a que assistimos.

Partimos em busca dos míticos Moustache Brothers, que ansiávamos há muito visitar...