sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Chegada ao Tibete

Inebriados com as fantasias a que o tecto do mundo nos transporta, excitados com as experiências que pretendemos viver e expectantes quanto ao “mal de altitude”, saímos do avião prontos a exorcizar todas as dúvidas relativas ao Tibete.

Acompanha-nos um enorme manancial de informação recolhido ao longo dos últimos tempos, que nos talha o pensamento e nos intensifica a dor que passamos a partilhar com os tibetanos.

Somos recolhidos pelo guia obrigatório que nos foi imposto não nos deixando no entanto enganar pela pele escurecida e curtida pelos elementos agrestes e que é inegavelmente a fisionomia característica dos tibetanos. Já sabemos que inúmeros tibetanos “venderam a alma ao diabo”, por necessidade ou não, trabalhando para a nação “libertadora” a China.

Sendo uma zona politica e socialmente muito sensível, o turismo tem as suas particularidades. A presença policial é ostensiva e propositada em todo o Tibete embora o turista mais distraído possa não reparar que todos os seus movimentos são controlados por estes guias “amigáveis” que o levarão a ver o que as autoridades querem e não o que os turistas pretendiam.
Foi por isso que tivemos que “resolver” uma série de situações que nos queriam impor, mas que com alguma paciência, persistência e obstinação se tornam possíveis de contornar. Relativamente ao hotel, já o tínhamos feito, tendo de ser nós próprios a fazê-lo de Portugal, dado que o que pretendíamos estava sempre cheio quando o solicitávamos pelas vias oficiais. Nada que um telefonema e uns e-mails não resolvam. Impunha-se agora resolver a situação do guia, para que deambulássemos livremente por Lhasa e arredores, falando com os locais, sem qualquer restrição e deixando os nossos interlocutores à vontade.

Assim que travámos conhecimento com o “simpático” guia, fizemos questão em o alertar o quanto apreciamos a viagem independente! Sem papas na língua, transmitimos-lhe que o facto de ele estar ali connosco, não tinha sido escolha nossa, mas que nos tinham imposto a sua presença e o respectivo pagamento, facto aliás que muito nos desagradou. Ironicamente, comunicámos-lhe que iria ter umas férias pagas nos próximos dias, dado que dispensaríamos os seus serviços. O guia não ficou obviamente satisfeito com a situação mas pese embora a sua surpresa, percebeu rapidamente que a nossa posição era inegociável. O guia colocou uma série de entraves a esta situação, falando de impossibilidades legais e propôs uma série de excursões que recusamos educadamente. Segundo ele a visita ao Potala sem guia estava completamente fora de questão, dado que as forças policias estavam presentes em força e qualquer turista desacompanhado além de não poder entrar, criaria uma situação “muito difícil” ao guia responsável por eles. Embora não acreditássemos nestes argumentos, também não o queríamos deixar em maus lençóis e afinal uma negociação é isso mesmo, concessões de parte a parte e no fundo, pareceu-nos um pequeno preço a pagar pela grande liberdade que já estávamos a conquistar!

Não acabámos esta “negociação” sem antes deixarmos bem claro, que após a entrada no Potala, nos abandonaria, deixando-nos a sós na magnificiência do local, numa visita que esperávamos com imensa ansiedade. Acordo firmado! É tempo agora de ficar “perigosamente” à solta para o contacto autêntico com as pessoas e a arte cultural e essencialmente religiosa tibetana!

Todo este episódio, se passa na ligação do aeroporto para a cidade, e apenas foi interrompido por uma pausa no caminho para admirar-mos uns gigantescos frescos pintados na rocha, cobertos por milhares de katas, os tradicionais lenços tibetanos que servem como oferendas religiosas e sociais. Também nós já vínhamos munidos da nossa kata que nos fora oferecida em sinal de boas vindas na chegada ao aeroporto.

Ao longo dos cerca de 70 quilómetros que separam Lhasa do aeroporto, nas novas estradas abertas pelos chineses, assistimos à eloquência da paisagem, tão bonita quanto agreste, dominada pelos imponentes picos escarpados, talhados suavemente pelo rio Ky Chu durante milénios, na ânsia de entregar aquela fonte de vida a todo o sudeste asiático.

Ao chegar a Lhasa, é com dificuldade que seguramos uma lágrima de emoção que teima em formar-se ao canto do olho ao depararmo-nos com a imponência extrema e a beleza aterradora do palácio Potala, que sobranceiro a toda a cidade parece querer subir a montanha e tocar o céu!

Não podia ser mais emocionante a entrada em Lhasa, embora a visão seguinte, nos mostrasse a cega e selvagem colonização chinesa que em nada se parece com a tradicional cultura tibetana.

Mais tarde teríamos a oportunidade de ver o quanto os chineses estragaram aquele oásis de beleza plantado no topo dos Himalaias.

O hotel era fantástico! Tipicamente tibetano, onde a madeira coloridamente pintada nos aquece a alma ao estilo dos seus templos budistas!

Após quase desmaiarmos ao subir o primeiro lance de escadas, os 3650 metros de altitude, começavam a pregar-nos umas partidas, fizemos o que já estava planeado: descanso total no que restava do dia, sabendo que necessitávamos daquele tempo para uma perfeita adaptação à altitude, deixando o nosso corpo produzir uns milhões de glóbulos vermelhos, acalmando os sintomas de embriaguês que já começávamos a sentir e preparando-nos para os dias que seguiam.

E que dias…

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Tibete, magia e misticismo.

Um país? Uma região? Um pedaço de céu? O Paraíso na terra? Uma religião?

Tantas perguntas e tantas fantasias envolvem este lugar que não sabendo ao certo defini-lo, sei no entanto que está carregado de misticismo, mistério e magia. Antes de entrar, imagino um lugar sobrenatural onde tudo pode acontecer. O seu isolamento e indiferença pelo resto do mundo criou uma onda de curiosidade por esta terra e este povo, que imagine-se não se interessavam pela riqueza, pelo materialismo e pela ganância!

Queriam apenas viver e foi exactamente isso que não os deixaram fazer.

Antes de entrar no País, sim para nós é um País, tínhamos, nós e os tibetanos, já algo que nos unia: o desejo do Tibete LIVRE !!!

É impossível esquecer o manancial de informação retida após horas de leitura de inúmeros livros (Sete anos no Tibete, As papoilas vermelhas, A vida do Dalai Lama, Uma vida pelo Tibete…), revistas, documentários e nas pesquisas feitas na Internet.

Não esquecemos também as dificuldades impostas na obtenção do visto especial para o Tibete (região de Lhasa, existem variadíssimos vistos para a região do Tibete). É especialmente difícil se formos viajantes independentes, como era o nosso caso, porque algumas vezes, pura e simplesmente não é dado o visto.

A marcação do hotel também não foi fácil, porque nos queriam colocar à força num hotel chinês e nós já tínhamos obviamente escolhido um hotel tibetano. Estas dificuldades tipicamente chinesas, aumentam a sensação de entrar num local proibido, onde a disciplina é imposta à força e onde os turistas não são bem vindos (só pelos chineses claro).

Falar sobre temas políticos ou mesmo religiosos não é permitido. É proibida a posse de fotografias do Dalai Lama ou da bandeira do tibete. Não adianta falar com os locais, dado que muitos, para não dizer quase todos os locais que têm contacto com os turistas, embora sejam tibetanos, estão completamente controlados pelos chineses.

Relativamente aos poucos monges budistas que hoje se encontram nos míticos mosteiros do Johkang, Sera, Drepung ou Ganden, aplica-se a mesma receita. Após a “libertação” chinesa (como estes lhe chamam), todos os mosteiros foram amplamente destruídos assim como todos os símbolos e locais sagrados budistas. Milhares de monges foram mortos sem apelo nem agravo e a religião proibida.

Existe polícia em todo o lado, e o medo parece sair da alma dos tibetanos. Os tibetanos tornaram-se minoritários no seu país. 6 milhões contra os 8 milhões de chineses que foram deslocados para a região. Por isso no ridículo em caso de eleições, ganharia a vontade chinesa! Todo o comércio e atentados arquitectónicos na cidade de Lhasa são da responsabilidade dos chineses, que para além da sua vontade de expansão, souberam avaliar as riquezas minerais e naturais existentes no Tibete. Ouro, Petróleo e 80% de todo o abastecimento de água doce ao sudeste asiático. Aqui nascem os maiores rios asiáticos: o Mekong, o Bramaputra o Yangtsé e o Indo.

Sua santidade o décimo quarto Dalai Lama (Tenzin Gyatso), é o chefe de estado do governo tibetano no exílio e tem passado toda a sua vida deambulando pelo mundo espalhando a sua bondade e inteligência entre o mundo cínico e hipócrita que nos rodeia e espantando-nos a todos com a sua bandeira da não violência.
Seria impossível explicar todas as atrocidades por que passaram aquelas gentes nas mãos do regime comunista chinês. Não é difícil adivinhar o número de mortos naquele local inóspito, longínquo e arredado de qualquer tipo de meios de comunicação, que proporcionam um refúgio ideal para a carnificina e genocídio das pessoas, das tradições e da cultura tibetana, que está condenada a desaparecer para sempre naquele território.

A esperança reside em Dharamsala (na Índia), onde se encontram mais de 100000 tibetanos no exílio, juntamente com o Dalai Lama após terem conseguido em épicas viagens atravessar a fronteira para se juntar aos seus irmãos e continuar um trabalho altamente meritório, que preserva a cultura tibetana apoiada em inúmeras escolas, creches e orfanatos erigidos numa montanha de dificuldades.

Foi nesta miscelânea de sentimentos, onde a magia convive com o terror, e na ignorância da nossa resistência à altitude que entrámos no Tibete. A expectativa era enorme e não seria defraudada…

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Chengdu, na terra dos Pandas!

Um dos principais motivos da nossa passagem por Chengdu, já o dissemos, era o facto de podermos tomar contacto com um dos mais emblemáticos animais à face da terra. Os pandas gigantes.

Era para nós um verdadeiro “highlight” de viagem por vários motivos: Para além do panda ser um animal que todos gostam pelo seu aspecto bonacheirão e comportamento brincalhão, o verdadeiro motivo que o torna tão especial, é por estar (ou ter estado) à beira da extinção e por só existir nesta região do Mundo.

Neste momento, apenas existem 1000 Pandas em liberdade e mais alguns espécimes em cativeiro. O Homem sendo um dos principais responsáveis pela sua quase extinção, não é o único. O próprio panda, por força do seu estilo de vida, alimentação e fraca reprodutividade também tem a sua quota parte de responsabilidade. Das toneladas de bambu que come anualmente, apenas consome 20 das 300 espécies de bambu existentes. Passa 14 a 16 horas por dia a ruminá-lo devido ao seu fraco poder calórico. Tem uma época de acasalamento curta e parece que é bastante selectivo na escolha da sua companheira. Para além disto, as fêmeas apenas dão à luz uma cria e nos casos raros em que nascem duas, normalmente uma delas é posta de lado. As crias não pesam mais do que uma maçã, o que leva a que numerosas vezes se sucedam alguns acidentes como esmagamentos durante o sono, etc.

Tudo isto somado, leva a que o relativo sucesso da preservação desta espécie seja simplesmente a manutenção dos números existentes.

O centro de pesquisa do panda gigante nos arredores de Chengdu, tenta contrariar essa tendência, com 40 animais residentes, tenta aumentar a reprodutividade dos Pandas e aumentar as probabilidades de sobrevivência das pequenas crias.

Foi este centro que quisemos conhecer e onde entrámos após uma curta viagem de 10 Km. A melhor hora para visitar o centro é de manhã cedo, quando os pandas são alimentados, visto que tirando esta altura, os pandas estão empenhados no seu hobbie preferido: dormir!

O local é fantástico para um passeio e para fazer uma pausa da poluição e caos das cidades chinesas. Fica localizado numa extensa floresta de bambu, claro está, e como bónus existe um bonito lago com uma casa de chá na margem!

Ao contrário de alguns locais por onde passámos, aqui todas as indicações e explicações dos vários locais, museu incluído, estão também em inglês, o que parecendo que não… facilita!

A excitação de ir ao encontro dos pandas era grande, e a ansiedade de avistar o primeiro, impelia-nos a andar cada vez mais depressa. O local embora fosse paradisíaco, especialmente para mim que sou um aficionado do bambu gigante, começava a deixar-nos desiludidos, é que naqueles amplos espaços, só víamos… bambu. Por fim lá avistámos um ponto preto e branco, que nem com o zoom no máximo conseguíamos distinguir as feições! Mas era apenas a ansiedade de querer ver tudo no primeiro minuto, porque alguns instantes depois, lá chegávamos a um local designado por “parque infantil dos pandas gigantes”. E aí, tirámos a barriga de misérias.

Era a hora da alimentação, e o caos estava instalado! Aquele local onde 10 ou 15 peluches gigantes tinham ganho vida, era de facto inenarrável. Os pandas têm duas características que os tornam especialmente atractivos: são bonitos e desajeitados. As suas reacções e relações mútuas, provam que existem pontos a favor na teoria do caos! Os momentos proporcionados, são capazes de arrancar comentários do tipo “olha que os bichos até são engraçaditos” aos mais sisudos dos visitantes.
Após algumas pseudo batalhas em câmara lenta, alguns tombos e habilidades falhadas, já estávamos perfeitamente apaixonados pelos pandas. Ficámos largos minutos ali, a observar aquele “filme”, comovidos com mais uma obra prima com que a Natureza resolveu presentear a Humanidade.

“É por isto que vale a pena Viajar!”. Eram estes pensamentos que em silêncio nos assaltavam enquanto continuávamos a nossa visita. Para além do museu simples mas esclarecedor e dos variadíssimos espaços por onde os pandas vão sendo distribuídos consoante o seu estado de desenvolvimento, tivemos oportunidade de ver uma cria minúscula e de pegar ao colo um panda bebé. Relativamente ao segundo, só tivemos a oportunidade porque não chegámos a fazê-lo por duas razões: ou melhor, por uma, é porque era caro! 1000 Yuans, visto assim, são apenas 100 euros, mas na altura pareceu-nos uma fortuna e para além disso, assaltou-nos a ideia, se seria o melhor para os pandas, que uma trupe de japoneses e 2 lusos, andassem para ali a “chatear” os bichos!

Ao longo da visita e certos que os pandas recebem ali o melhor tratamento possível, não podemos deixar de notar alguma precariedade de algumas jaulas, com espaços demasiado confinados e claustrofóbicos. Não nos podemos esquecer no entanto do nível de vida chinês…

Os parentes pobres do parque são os pandas vermelhos, que não gozam da popularidade dos seus primos a preto e branco. No entanto esta discriminação não se faz sentir nas suas instalações.

Saímos do parque com o optimismo natural de quem vê projectos válidos e sustentados de apoio à natureza e confiantes que melhores dias virão para esta espécie ameaçada. Assim esperamos...

Estava na hora de voltar ao templo de wenshu, que estava fechado no dia anterior e aproveitar a ocasião para almoçar naquele bairro fantástico que o rodeia. Foi o que fizemos. Após um almoço típico chinês, lá partimos rumo ao templo budista que nos é sempre inspirador. Nada de especial a apontar ao templo para além do ambiente sempre positivo e regenerador que parece ser parte integrante de qualquer templo budista.

O que é de registar é o bem cuidado parque, onde vários transeuntes vêm "passear" os seus pássaros domésticos em rústicas gaiolas que ficam penduradas nas árvores enquanto os seus donos se embrenham numa disputada partida de mahjong.

Na continuação do parque, uma casa de chá dá continuidade à mistíca do lugar com litros e litros de àgua que vão correndo dos enormes bules metálicos dos empregados num contínuo vai e vem para encher e dar vida às folhas verdes da planta do chá, dos crisântemos e de tantas outras essências que por ali se sentiam.

As casas de chá funcionavam na China como um local de encontro social e onde para além da conversa, dos jogos e obviamente do chá, se aproveitava o local para algumas necessidades básicas como fazer a barba, cortar o cabelo ou.... limpar os ouvidos! Sim, em pleno século XXI, parece que ainda se preservam algumas tradições...

O nosso dia estava ganho, Chengdu também ganhou algum estatuto e deixou de ser apenas um local de passagem para o Tibete. A nós restáva-nos aproveitar a beleza e o misticismo daquela casa de chá perdida no templo, para entre repetidas chávenas de chá, apurarmos os nossos sentidos para recebermos em pleno toda a magia que o Tibete nos reservaria...

Chengdu, Sichuan

Chengdu, não estará nos percursos mais óbvios realizados na China, e embora isso só por si já seja um ponto a favor, para nós Chengdu, representava 2 grandes objectivos de Viagem: a ligação a Lhasa no Tibete e a aproximação aos pandas, esse animal simbólico adoptado pelo WWF como símbolo da preservação das espécies e que habita apenas em duas províncias chinesas: Sichuan e o sul de Shaanxi.

Ao planearmos a viagem, tínhamos decidido que visitaríamos a reserva natural de Woolong a cerca de 150 quilómetros de Chengdu, onde os pandas vivem em absoluta liberdade. Mas após alguma pesquisa, chegámos à conclusão que o mais provável era visitarmos uma bonita floresta de bambu e pandas nem vê-los! Assim sendo, o nosso contacto com os pandas seria feito no centro de pesquisa e desenvolvimento de pandas nos arredores de Chengdu. Este centro, que conta com um sucesso relativo na preservação desta espécie, possui um amplo parque do tipo jardim zoológico, mas onde ao contrário do que é habitual, os animais estão em primeiro lugar. Amplos espaços recriando o seu habitat natural, albergam os pandas tornando por vezes em alguns deles impossível a sua observação. Muitos espaços fecham consoante as necessidades dos pandas: épocas de acasalamento, gravidez, etc… Está bem feito, mas quanto a este parque já lá iremos…

Quando chegámos a Chengdu, informaram-nos que esta era uma pequena cidade de 4 milhões de habitantes!!! A entrada na cidade no percurso do aeroporto até ao hotel, mostrou-nos que estávamos certos. Pandas e Tibete, não há nenhuma razão suplementar para visitar Chengdu. Ficaríamos no entanto surpreendidos…

Arranha-céus a perder de vista, mostravam-nos a face da nova-China, onde a modernidade é plantada à força, empurrando o exotismo e ritualidade que parecem envergonhar os chineses para os cantos mais recônditos e que tanto atraem as almas ocidentais sempre em busca das vestes em seda colorida, chapéus em bico e riquexós frenéticos.

Depois do ritual do costume na chegada ao hotel, partimos para um almoço tardio onde decidiríamos o que fazer no que restava da tarde. O que nos pareceu mais acessível e interessante, foi uma visita ao templo de Wenshu, um agitado templo budista da dinastia Tang, segundo a descrição do guia. A referência a 2 casas de chá no templo, retirou-nos todas as dúvidas e foi para lá que partimos, porque a tradição de 3000 anos do chá nesta região não é de menosprezar!

Chegados ao templo, uma meia desilusão. O templo já estava fechado, mas em contra-partida, a zona envolvente era o oposto da descrição de Chengdu! Tínhamos à nossa frente, um amplo bairro tradicional, com as típicas casas em madeira e os seus pátios bem cuidados, onde restaurantes, pequenos comércios e casas de chá, faziam a delícia dos transeuntes.

Um verdadeiro achado! Nada melhor, do que quando não temos qualquer expectativa e somos presenteados com uma verdadeira pérola! A não perder. Percorremos o bairro de lés a lés, desfrutando de umas chávenas de chá e de umas compritas pelo caminho. Ao templo voltaríamos mais tarde, porque sem dúvida valeria a pena!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Xian e o seu inigualável exército.

Já parece uma banalidade dizê-lo, mas a China por força da sua riquíssima cultura milenar deve sair o país do mundo com mais inscrições na UNESCO. Por vezes o que parecia difícil era visitar um monumento que não estivesse catalogado neste organismo.

Assim sendo, este dia não seria excepção e fora aguardado também ele com grande expectativa. É compreensível tal o exotismo e extravagância do exército de cavaleiros de terracota descoberto há escassos anos nas redondezas de Xian, mas que já conta com mais de 2000 anos!

Desde a história que envolve a criação deste exército, à sua exuberante dimensão com mais de 6000 soldados, ao perfeccionismo da execução onde não existe uma cara repetida até à sua recente descoberta por agricultores em 1974, tudo se conjuga para o tornar incomparável.

Em 246 AC, Qin Shi Huang, o primeiro imperador chinês, já que unificou uma série de territórios e deu o nome à actual China, subiu ao trono. Consta que era um ditador implacável e possuidor de um poder avassalador, fruto da unificação dos vários reinos. É sabido que na época, os imperadores se faziam acompanhar de inúmeras riquezas e objectos pessoais, para enfrentarem a “outra” vida. Foi assim, que surgiu este exército, para garantir a segurança póstuma do imperador.

Esta história adquire contornos interessantes, já que o imperador quereria enterrar não um exército de terracota mas sim o seu verdadeiro exército! Sim enterrar vivos os próprios soldados para que o acompanhassem e o defendessem na “outra” vida! Um general do imperador, temendo a esperada carnificina e temendo também pela própria vida terá dissuadido o imperador a levar um exército de terracota em vez do exército em funções. Parece que se salvaram desta forma pelo menos 6000 soldados! Ou talvez muitos mais, dado que existem ainda muitos mais para serem desenterrados, mas como perdem as cores com que foram pintados quando são desenterrados, vão ficar a aguardar os avanços tecnológicos que no futuro permitirão a sua perfeita recuperação.

Partimos bem cedo em direcção aos arredores de Xian, onde se encontra o túmulo de Qin Shi Huang, um dos mais impressionantes mausoléus do mundo. Claro que pelo caminho, parámos na fábrica que produz as réplicas em terracota de todos os tamanhos, seguindo a técnica original. Como já é também habitual, foi muito interessante a visita até àquela fase onde a troco de uma visita “gratuita”, nos tentam impingir as réplicas 10 ou 20 vezes mais caras do que acabámos por comprar no mercado em frente ao nosso hotel!

Continuando o caminho chegamos ao local do mausoléu e dos seus guardiões. Os milhares de cavaleiros de terracota de tamanho natural, estão dispostos em 3 fossos, segundo a sua disposição original. Esta disposição, bem como a postura de corpo e indumentária seguem as normas rigorosas, registadas num antigo livro da arte da guerra.

O primeiro fosso, composto de longos corredores, alberga 6000 soldados. A sensação de entrar e ver aquela dimensão, é absorvente se nos lembrarmos que estamos perante mais de 2000 anos de história e não na disneyland. Os pormenores de cada soldado são impressionantes chegando aos detalhes do penteado ou do bigode. O segundo fosso alberga mais 1000 cavaleiros e o terceiro apenas 68, onde se pensa que estivessem as altas patentes daquele exército.

Em 1974, alguns agricultores, nas suas tarefas diárias, escavaram uma zona onde encontraram alguns cacos curiosos. Essa “escavação” tornou-se naquela que é provavelmente a maior descoberta arqueológica do século XX. Hoje em dia esse humilde agricultor, que se tornou famoso por força da sua descoberta, está também presente de corpo e alma no museu, onde autografa um livro oficial com a história e fotografias do local. Consta que há alguns anos atrás, Bill Clinton em visita ao local, comprou o livro oficial e pediu ao humilde agricultor que lhe autografasse o mesmo. Perante o constrangimento geral, descobriram que o agricultor era analfabeto e nem o seu próprio nome sabia assinar. Depois desta gaffe, lá teve o desgraçado que aprender a assinar o nome e a prova é o exemplar autografado orgulhosamente exposto na estante da nossa sala!

Depois de visitarmos todos os fossos e o museu, sempre atentos à esmerada explicação da nossa guia, seguimos para Xian, onde pedimos para nos deixarem nas imediações do templo do grande ganso que pretendíamos visitar depois do almoço.

Foi sem dificuldade, que fizemos uma pausa na gastronomia chinesa e atacámos um McDonalds que nos soube a pato… à Xian!

O templo do grande ganso, transportou-nos para a harmonia e equilíbrio que sempre sentimos nos templos budistas. Remontando ao ano de 652, foi posteriormente restaurado e ampliado, para acolher as escrituras budistas trazidas da Índia pelo monge viajante Xuan Zang, que ali se instalou e as traduziu em 1335 volumes em chinês!

A nossa tarefa ali era bem mais simples e foi com agrado que percorremos o templo assistindo a todos os rituais e cerimónias dos fervorosos crentes.

Depois do verdadeiro “banho de cultura”, nada melhor que uma sestazinha! É que pretendíamos ainda visitar e percorrer as muralhas de Xian, mas para isso era absolutamente necessário retemperar forças…

Outra das (muitas) particularidades que Xian nos oferece, é o facto de ainda existirem as ancestrais muralhas que envolvem a cidade antiga. Para além da sua imponência, proporcionam um belo passeio de bicicleta nas suas largas ameias, com vista privilegiada para a cidade! Fantástico. Deixámos levar-nos pelo romantismo do momento e deixámo-nos abraçar pelo arrebatador final de tarde que nos embalava na nossa despedida de Xian, acompanhados pelas exóticas lanternas vermelhas que coloriam a noite…

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Xian,cidade imperial!

Embora Xian seja essencialmente conhecida por causa dos seus cavaleiros de terracota, os atractivos desta cidade da província de Shaanxi na China central, não se limitam a esse inimitável exército com mais de 2 mil anos.

Ainda Roma não tinha sido fundada nem muitos dos clássicos gregos escritos e já Xian era uma cidade clássica do mundo antigo. Sendo o términus da mítica rota da seda, facilmente se percebe que fosse uma cidade “global” à escala da época. Foi a capital imperial do império do meio. Durante séculos aqui nasceram e morreram dezenas de imperadores e dinastias.

Xian foi o centro do universo chinês e o legado que nos deixa é impressionante.

Quando chegámos a Xian, e dado que ficámos instalados no centro da cidade com vista para a torre do tambor e para a torre do sino, partimos a pé à descoberta da cidade.

Mesmo em frente ao hotel encontrámos um mercado de rua por onde gostamos sempre de passear. Ficamos a conhecer os hábitos locais e tomamos contacto com alguns produtos exóticos que sempre se encontram nestes locais. Após frustrantes tentativas de descodificação de frutas e legumes, seguimos para o bairro islâmico.
Na altura não sabíamos sequer para onde nos dirigíamos, mas uma placa dava-nos as boas vindas ao local. Este bairro revelou-se absolutamente surpreendente. Tendo nascido dos comerciantes muçulmanos que percorriam a rota da seda, pode dizer-se que será o mais antigo de Xian.
Entre ruelas intrincadas, fomos avançando numa miríade de estabelecimentos e bancas que vendiam de tudo um pouco. Da nossa parte, devemos confessar que gostámos bastante dos grilos e das suas minúsculas gaiolas de verga, que são vendidos como animais de estimação. Seguindo a tradição dos seus ancestrais, aqui o comércio é frenético, existindo produtos para todos os gostos, desde os tradicionais restaurantes às lojas de chá até às lojas onde se vendem cartazes de caligrafia chinesa.
O contacto com os orgulhosos homens religiosamente barbudos e de imponentes turbantes brancos em riste, fez-nos descansar um pouco da cultura chinesa. O bairro era realmente muito interessante e após uma consulta à nossa bíblia de viagens, o lonely planet claro, apontámos a bússola para o ponto de interesse mais destacado do bairro: A grande mesquita. Embora localizada aqui desde tempos imemoriais, o edifício actual da grande mesquita data do século XVIII e é um local extremamente calmo e apaziguador. É uma simbiose da cultura árabe com a cultura chinesa, e assim ao longo dos jardins bem cuidados que íamos percorrendo, despontavam alguns templos em forma de pagode. Mereceu indiscutivelmente a visita!

À saída voltámos a perder-nos no labirinto de ruelas que a cada esquina nos mostravam mais bancas artesanais de produtos vários e comida. Ficou-nos na retina, uma banca onde confeccionavam de forma artesanal uns atractivos chupa-chupas que nos faziam recuar no tempo e que deliciavam a criançada que ali acorria em grande número.

Deliciados com a experiência, fomos ficando por ali até já serem horas de jantar. Um primeiro olhar para o restaurante… Perfeito, éramos os únicos de olhos redondos! Depois de uma série de conversas mutuamente incompreensíveis e auxiliados pela sempre universal linguagem gestual, lá conseguimos pedir umas pequenas espetadas de diferentes tipos de carne sem picante… Algumas garrafas de água depois, com muitos gestos pelo meio, lá conseguimos a segunda rodada de espetadas, desta vez mesmo sem picante!

A autenticidade e espontaneidade vivida naquele restaurante era directamente proporcional à inequívoca falta de condições para os nossos padrões ocidentais. Os preços também não estavam absolutamente de acordo com os nossos padrões. Por menos de 5 euros comemos algumas dezenas de pequenas espetadas e bebemos umas garrafas de água e coca-cola! O mais engraçado, é que no dia seguinte descobriríamos que tínhamos sido enganados e que pagáramos o dobro do que seria devido.

Recolhemo-nos no hotel ainda embalados pelo bonito espectáculo dos extensos papagaios de papel, que em movimentos ritmados pelo vento, pareciam querem rasgar o céu...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O último dia em Pequim

Reservámos o último dia completo em Pequim para visitar mais 2 pérolas do vasto património existente: O palácio de Verão e o templo do céu.

Ainda a manhã despertava e já nos encontrávamos no táxi a caminho do palácio de Verão. Embora este local fosse há muito um refúgio dos imperadores para o calor opressivo que se fazia sentir na cidade proibida nos meses estivais, só no século XVIII, ganhou as actuais dimensões. Na entrada os imponentes leões e figuras mitológicas guardam os portões sagrados do palácio.


O estilo é tradicional, predominando o vermelho e os telhados em forma de pagode. Trata-se de mais um complexo palaciano de grandes dimensões, dominado pelos extensos lagos artificiais e jardins envolventes. Não falta sequer um barco de mármore no meio do lago, que representa acima de tudo o alheamento da realidade que sofria a imperatriz Cixi, delapidando os já de si pouco recheados cofres do estado num claro sinal de decadência no ocaso da dinastia Ming.


Hordas de turistas chineses invadem literalmente o palácio de Verão. No curioso “longo corredor”, carregado de pinturas e figuras representativas da mitologia chinesa, que ladeia o lago Kumming, milhares de pessoas descansam dos longos passeios que o palácio proporciona.

O complexo é suficientemente grande e arejado para disfarçar a massificação de turistas. Vamos visitando os vários pavilhões onde outrora a faustosa corte se instalava e que agora se encontram repletos de objectos pessoais pertencentes aos imperadores e ao seu séquito.

Embora curiosas, as exposições que percorremos não são especialmente fascinantes. O melhor mesmo é o passeio pelo parque, a arquitectura exótica dos vários palácios e templos, o passeio de barco pelo lago e a fantástica ponte dos 17 arcos.

A dimensão e a curiosidade levam-nos uma manhã na visita ao palácio. A aproximação da hora do almoço leva-nos a seguir para o templo do céu, e a procurar um restaurante nas imediações.

Por curiosidade e sem o sabermos, acabamos por almoçar num restaurante que soubemos posteriormente servia um prato típico chinês: O “hot pot”. Uma panela cheia de água, que se colocava a ferver com uma inestética bilha de gás colocada debaixo da mesa. Ao estilo fondue, travessas de finas fatias de carne, vegetais, massas e outros condimentos que não sabíamos identificar eram colocados na panela, cozinhados ao nosso gosto e acompanhados com uma apetitosa pasta de amendoim. Apenas entrámos movidos pela curiosidade e pelo facto de não existir um único turista no restaurante. Aliás nem sequer parecia um restaurante. Mas o mais interessante, foi que quando demos por nós, tínhamos à nossa volta imensos chineses simpáticos e voluntariosos, que nos davam indicações de como preparar a comida, o que deveríamos colocar primeiro e que quando se afastavam continuavam a observar-nos entre sorrisos complacentes e trocistas.

Mais satisfeitos com a experiência do que com a comida seguimos para o templo do céu que se encontrava a escassos metros do local.

O Templo do céu é um verdadeiro ícone de Pequim, aparecendo inúmeras vezes como símbolo da cidade. É o melhor exemplo da arquitectura Ming e está carregado de simbolismos próprios da época em que o filho do céu, o imperador, aqui vinha pedir boas colheitas, clarividência e o melhor para o seu povo.

Desde as bases quadradas dos templos e os topos redondos simbolizando respectivamente a terra e o céu até às construções envolvendo o número 9, o maior dos números primos, considerados celestiais, o templo do céu possui um pouco de todo o simbolismo e ritualidade praticada na dinastia Ming.

Foi uma boa forma de acabar o nosso circuito “monumental” em Pequim! O templo do céu e o parque envolvente têm uma harmonia própria dos espaços religiosos e ao afastarmo-nos dali com os templos redondos e os seus patamares característicos de telhas pretas, foi inevitável pensar que aqueles dias em Pequim nos tinham proporcionado momentos inesquecíveis, e que embora fossem para nós já conhecidos das revistas e dos guias, na realidade a nossa expectativa tinha sido suplantada.

A nossa estadia em Pequim, não poderia estar completa sem antes nos perdermos numa paixão que fomos ganhando com as viagens pela Ásia: o chá. Estávamos na pátria do chá e por isso, não existia local melhor para o comprar!

Tínhamos reparado dias antes que à saída do Templo dos Lamas, existia uma magnífica oferta de lojas de chá e por isso foi para lá que nos dirigimos.

As lojas de chá são surpreendentes. Com um aspecto moderno e inovador, fazem lembrar as nossas farmácias, dado o ar profissional dos prestáveis empregados, que equipados a rigor com luvas e batas brancas medem em rigorosas balanças de precisão algumas gramas dos delicados chás e infusões que pedimos.

A variedade de chás, infusões e acessórios para o chá e para o seu ritual é extravagante. A variedade dos preços também. Para o mesmo tipo de chá os preços chegam a atingir valores verdadeiramente proibitivos; 1000 a 1500 euros o quilo! Aprendemos que o Pu-er, um chá prensado que vai fermentando ao longo dos anos, funciona da mesma forma que para nós por exemplo o vinho do Porto, havendo reservas que são verdadeiras preciosidades e objecto de colecção.

Jasmim, oolong, chá verde, botões de rosas, Pu-er, e outras infusões de difícil tradução, foram algumas das especialidades que comprámos, para desta forma perpetuarmos durante muito tempo a nossa estadia em Pequim entre deliciosas chávenas de chá em Lisboa.

Acabávamos a nossa visita em Pequim num vulgar restaurante nas imediações no Templo dos Lamas. Era hora de pensar no que se seguia: Xian, a cidade imemorial do império do meio e do seu famoso exército dos cavaleiros de terracota.

sábado, 22 de março de 2008

Pequim, a Grande Muralha da China

Este era um dos dias mais aguardados da viagem. O motivo era óbvio. A grande muralha é motivo de espanto para todos, quer seja pela sua dimensão, idade, número de trabalhadores que por lá passaram e… que por lá morreram.


Existem inúmeras histórias sobre a grande muralha, muitas não passam de mitos e lendas, mas isso apenas contribui para a inapelável mística que a torna consensualmente numa das 7 maravilhas do mundo… moderno. Sim porque ao contrário do que muitos pensarão, a Grande Muralha, não pertence à lista das 7 maravilhas do mundo antigo. A única maravilha do mundo antigo ainda existente e que é obviamente também uma das maravilhas do mundo moderno são as pirâmides de Gize. Estas 2 maravilhas serão provavelmente as únicas universalmente consensuais de toda a lista recentemente divulgada. Pela parte que me toca, quando se fala de maravilhas do mundo, fico até ofendido quando colocam a estátua da liberdade, a torre Eiffel, o Cristo redentor ou a ópera de Sidney…

Mas voltando à Grande Muralha, ou melhor às “grandes muralhas”, já que esta é composta por vários troços que não estão ligados entre si e que perfazem aproximadamente 7000 Km. Esta distância também é algo controversa, mas para o certificarmos, nada melhor do que a percorrer a pé como um aventureiro inglês, que levou “apenas” 3 anos para o fazer.

A grande muralha começou a ser construída em 220 A.C. Inicialmente foi a junção de várias muralhas já existentes que ao longo dos séculos foi sendo ampliada até atingir o seu auge no início da dinastia Ming. Empregou mais de 1 milhão de trabalhadores e 250000 terão dado a sua vida para que este colosso fosse uma realidade.


Existem vários troços restaurados nas proximidades de Pequim. O mais conhecido será Badaling, mas é também o mais concorrido. Nós visitámos o troço de Juyongguan. Saímos bem cedo de Pequim em direcção à grande muralha. Estávamos obviamente muito entusiasmados, por irmos pisar aquele local mágico. Não nos livrámos de parar numa loja monumental de jade, onde a tradicional táctica de nos levar a ver a fábrica e como são feitas as peças é apenas um pequeno pretexto para nos fazer gastar grandes somas de dinheiro! Já habituados a estes esquemas, deixámo-nos levar inicialmente, porque podia ser que existisse algo realmente interessante, mas depois de ver o que era, e visto que fazíamos uma excursão privada, não levou mais de 5 minutos para estarmos no carro de volta ao percurso original.

À medida que nos aproximávamos, a paisagem tornava-se cada vez mais irregular. Quanto mais acidentada se tornava, mais impressionante nos parecia aquela monumental “serpente” que parecia capaz de transpor qualquer obstáculo.

A nossa ansiedade tornava-se mais evidente, e assim que parámos, dirigimo-nos apressadamente para a base da muralha. Tínhamos pressa em saciar a curiosidade, em nos perdermos naquelas místicas entranhas, em ver mais além e até quem sabe onde acabaria a muralha…


A paisagem era verdadeiramente impressionante. É certo que o local e a mística a que este nos transporta amplifica todos os sentimentos, mas olhando para a geografia do terreno, é impossível não ficar espantado com o génio e engenho que possibilitou a construção daquela maciça muralha em local tão inóspito.

Embora restaurada, a muralha não é de fácil escalada, por força da enorme inclinação e da dimensão dos degraus. Por vezes o simples acto de voltar a cabeça para trás dá-nos vertigens. Vamos avançando com vigor, até porque tínhamos de cumprir a ordem de Mão Tsé Tung que disse em tempos que “quem não escalasse a Grande Muralha não seria um verdadeiro Homem”. Nós seríamos verdadeiros Homens… embora algo debilitados nos dias seguintes. Queríamos atingir o ponto mais alto daquele troço, mas sempre que o alcançávamos, um outro escalava um pouco mais a montanha…

Não atingimos o topo da montanha, mas no auge do cansaço, acho que atingimos o topo da felicidade. Pela paisagem, pela mística, pela história, pela liberdade, no fundo por ali estarmos e sentirmos por breves instantes que estávamos a fazer parte da História.

Algumas horas depois, chegámos de novo à base, sentindo que tínhamos atingido mais um marco no nosso percurso de viajantes. Conhecemos mais pessoas, mais lugares e assim enriquecemos a nossa Vida… ou a nossa Viagem.

Seguimos para os túmulos Ming, um local sagrado onde os imperadores da Dinastia Ming eram sepultados, mas antes disso, era altura de parar num dos muitos locais para turistas, enormes, sem gosto, para todos, obrigatórios, muito… chineses! O almoço seria ali mesmo. Na China todos fazem o mesmo. É turista então vai ali, vai acolá, faz o que é obrigado a fazer e não o que quer fazer. Para isso, faz-se um gigantesco local para acolher os milhares de turistas. Não é bonito? É cinzentão? Então tem 2 opções, queixa-se e vai para as pedreiras do noroeste da China durante 50 anos de trabalhos forçados ou come e cala e segue a sua vidinha!


Nos túmulos Ming, estão enterrados 13 dos 16 imperadores desta dinastia. Consta que existem riquezas incalculáveis enterradas juntamente com os imperadores, já que nesta altura, estes se faziam acompanhar de todo o seu séquito e grande parte das suas riquezas e objectos pessoais, para encarar a vida futura… Na realidade mais do que consta, existem dados concretos para este facto, dado que um dos túmulos foi aberto e as riquezas retiradas, deixaram todos boquiabertos. Parte desse “saque”, está patente no museu existente no local. É aliás o único motivo válido da visita, porque quanto ao resto, não existe muito mais para ver.


Seguimos. Em conversa com a guia, confessei o meu gosto pelo chá. Foi assim que nos propuseram uma visita a uma casa de chá, onde poderíamos assistir a uma cerimónia completa do ritual chinês do chá. Fantástico. Ora aqui estava uma boa surpresa! Num final de tarde após uma escalada cansativa, estaríamos descansadinhos a beber um chá acompanhando o ritual à risca.

O local era uma casa típica chinesa, com os tradicionais pátios interiores e com as gaiolas dos pássaros penduradas. Lá entrámos num pagode, e dirigimo-nos para uma mesa onde uma simpática chinesa, lidava com os mais variados utensílios. Depois das formais apresentações, começámos a nossa odisseia ao mundo do chá. Começando no chá preto (na china a tradução é chá vermelho), passando pelo oolong, seguindo para o verde e para o branco. Umas rosas para adocicar. Óptimo. Ao contrário do que seria expectável, sorver ruidosamente o chá, faz parte da etiqueta do ritual do chá. Caso contrário, é porque não estamos a gostar… Sorvemos o chá ruidosamente, porque obviamente… gostámos!

Vamos então regressar a Pequim onde nos esperava um espectáculo para ver. Kung Fu, um interessante espectáculo teatralizado, onde entre a história e a lenda do primeiro mestre de Kung Fu, tivemos a oportunidade de ver alguns golpes estonteantes.

Ainda antes de chegarmos, passámos pelo local da futura cidade olímpica, onde o pavilhão das piscinas, todo forrado de “bolhas” e o “ninho” como é chamado o estádio olímpico, demonstravam a irreverência arquitectónica que acompanha a aventura olímpica.