quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Tibete, magia e misticismo.

Um país? Uma região? Um pedaço de céu? O Paraíso na terra? Uma religião?

Tantas perguntas e tantas fantasias envolvem este lugar que não sabendo ao certo defini-lo, sei no entanto que está carregado de misticismo, mistério e magia. Antes de entrar, imagino um lugar sobrenatural onde tudo pode acontecer. O seu isolamento e indiferença pelo resto do mundo criou uma onda de curiosidade por esta terra e este povo, que imagine-se não se interessavam pela riqueza, pelo materialismo e pela ganância!

Queriam apenas viver e foi exactamente isso que não os deixaram fazer.

Antes de entrar no País, sim para nós é um País, tínhamos, nós e os tibetanos, já algo que nos unia: o desejo do Tibete LIVRE !!!

É impossível esquecer o manancial de informação retida após horas de leitura de inúmeros livros (Sete anos no Tibete, As papoilas vermelhas, A vida do Dalai Lama, Uma vida pelo Tibete…), revistas, documentários e nas pesquisas feitas na Internet.

Não esquecemos também as dificuldades impostas na obtenção do visto especial para o Tibete (região de Lhasa, existem variadíssimos vistos para a região do Tibete). É especialmente difícil se formos viajantes independentes, como era o nosso caso, porque algumas vezes, pura e simplesmente não é dado o visto.

A marcação do hotel também não foi fácil, porque nos queriam colocar à força num hotel chinês e nós já tínhamos obviamente escolhido um hotel tibetano. Estas dificuldades tipicamente chinesas, aumentam a sensação de entrar num local proibido, onde a disciplina é imposta à força e onde os turistas não são bem vindos (só pelos chineses claro).

Falar sobre temas políticos ou mesmo religiosos não é permitido. É proibida a posse de fotografias do Dalai Lama ou da bandeira do tibete. Não adianta falar com os locais, dado que muitos, para não dizer quase todos os locais que têm contacto com os turistas, embora sejam tibetanos, estão completamente controlados pelos chineses.

Relativamente aos poucos monges budistas que hoje se encontram nos míticos mosteiros do Johkang, Sera, Drepung ou Ganden, aplica-se a mesma receita. Após a “libertação” chinesa (como estes lhe chamam), todos os mosteiros foram amplamente destruídos assim como todos os símbolos e locais sagrados budistas. Milhares de monges foram mortos sem apelo nem agravo e a religião proibida.

Existe polícia em todo o lado, e o medo parece sair da alma dos tibetanos. Os tibetanos tornaram-se minoritários no seu país. 6 milhões contra os 8 milhões de chineses que foram deslocados para a região. Por isso no ridículo em caso de eleições, ganharia a vontade chinesa! Todo o comércio e atentados arquitectónicos na cidade de Lhasa são da responsabilidade dos chineses, que para além da sua vontade de expansão, souberam avaliar as riquezas minerais e naturais existentes no Tibete. Ouro, Petróleo e 80% de todo o abastecimento de água doce ao sudeste asiático. Aqui nascem os maiores rios asiáticos: o Mekong, o Bramaputra o Yangtsé e o Indo.

Sua santidade o décimo quarto Dalai Lama (Tenzin Gyatso), é o chefe de estado do governo tibetano no exílio e tem passado toda a sua vida deambulando pelo mundo espalhando a sua bondade e inteligência entre o mundo cínico e hipócrita que nos rodeia e espantando-nos a todos com a sua bandeira da não violência.
Seria impossível explicar todas as atrocidades por que passaram aquelas gentes nas mãos do regime comunista chinês. Não é difícil adivinhar o número de mortos naquele local inóspito, longínquo e arredado de qualquer tipo de meios de comunicação, que proporcionam um refúgio ideal para a carnificina e genocídio das pessoas, das tradições e da cultura tibetana, que está condenada a desaparecer para sempre naquele território.

A esperança reside em Dharamsala (na Índia), onde se encontram mais de 100000 tibetanos no exílio, juntamente com o Dalai Lama após terem conseguido em épicas viagens atravessar a fronteira para se juntar aos seus irmãos e continuar um trabalho altamente meritório, que preserva a cultura tibetana apoiada em inúmeras escolas, creches e orfanatos erigidos numa montanha de dificuldades.

Foi nesta miscelânea de sentimentos, onde a magia convive com o terror, e na ignorância da nossa resistência à altitude que entrámos no Tibete. A expectativa era enorme e não seria defraudada…