quarta-feira, 12 de março de 2014

Sudeste asiático, meditação de viagem...

Já por diversas vezes dei comigo a pensar, qual é a razão do meu fascínio pelo sudeste asiático…

Por vezes é difícil materializar em palavras aquilo que é intangível e superficial… Como descrever sensações e prazeres…

É lógico que para ter uma percepção completa, o ideal é lá estar, é viver, é sentir, mas tentando esmiuçar um bocadinho, existem vários factores para que este local do Mundo seja especial, pelo menos para mim…

É óbvio que o facto de ser uma zona tropical ajuda, com as suas paisagens luxuriantes, as praias, o calor,… ajuda. Mas é muito mais do que isso. A primeira palavra que me assola é o exotismo, mas o que é isto? O que é isso de ser exótico? Acho que para mim, o ser exótico nos dias que correm, onde já vimos tudo ou quase tudo o que há para ver, é mais do que descobrir coisas novas. É vivê-las e perceber que ainda existem alguns locais do Mundo preservados da globalização maciça…

É nesta procura da diferença que se revela o exotismo.

Este local do Mundo, desde a Tailândia, Birmânia, Cambodja, Malásia, Indonésia,… é fértil em cultura e tradição. Esta cultura e tradição, é o cimento que permite manter unido um estilo de vida e uma vivência própria, que tem na religião um dos seus factores mais duradouros…

Ainda nós andávamos de moca na mão e já por aqui a arte a cultura, a tradição e a religião eram provavelmente muito parecidas com o que se pode encontrar hoje em dia…

Claro que hoje são oásis, ninguém espera que grandes metrópoles como Bangkok, Singapura ou Kuala Lumpur nos transmitam constantemente este sentimento, mas procurando nos seus meandros, fugindo um pouco aos roteiros mais previsíveis e afastando-nos um pouco dos grandes centros, ainda conseguimos uma verdadeira sensação de evasão…

Em 2006, organizámos uma viagem à Tailândia, Birmânia e Cambodja. Depois da nossa experiência na Indonésia e em Singapura, queríamos “atacar” o coração da Indochina. Foi nesta viagem que consolidámos a nossa verdadeira paixão pelo sudeste asiático.

Vivemos momentos tão dourados nas nossas vidas… Por aqui, surpreendemo-nos tanto com o que vimos e sentimos que posso hoje numa época em que as viagens andam em stand by, afirmar sem qualquer dúvida, que nem eu nem a Xana seríamos os mesmos se não tivéssemos vivido estas experiências.

Às vezes dou por mim a pensar em episódios e situações de viagem, que para além de terem sido um ensinamento, ficaram definitivamente marcadas nas nossas memórias… Ao contrário de tantos outros momentos, que com a erosão do tempo se apagam, estes perduram e perdurarão sempre. Fazem-nos sentir nostalgia, por vezes até tristes, chegamos a chorar ao relembrar alguns episódios, mas definitivamente moldaram-nos e por isso dizemos que o melhor que trazemos são as memórias, que são no fundo a estante da nossa história, onde livro a livro crescemos, amamos, aprendemos... enfim... vivemos!

Esta meditação, surge também um pouco, para introduzir esta viagem que foi fundamental para nós. Que marcou um início de uma paixão e como qualquer paixão, gostamos de a comemorar.

O início deste blog, que ocorreu após esta viagem, teve na realidade 2 propósitos. Com o tempo, algumas coisas vão-se alterando, mas o que definitivamente me fez começar a escrever o blog, foi em primeiro lugar materializar de alguma forma estas experiências com medo que no futuro algumas partes ficassem esquecidas. Era no fundo um roteiro nosso e escrito para nós. O formato era ideal para a altura e servia quase como um diário de viagens. Esta era uma ideia que fermentava, mas por alguma razão, onde quase sempre prevalecia a preguiça, nunca se dava o momento ideal para começar.

O rastilho foram as manifestações na Birmânia em 2007, onde milhares de pessoas mais uma vez morreram entregues à sua sorte e especialmente à sorte da Junta militar que governava ditatorialmente o pais.

Não preciso de repetir, o quanto fui feliz na Birmânia. Não foi uma felicidade infantil, nem sequer uma felicidade sempre positiva. Teve até muitos momentos tristes, comoventes, fortes… A minha felicidade descrita desta forma, foi mais o sentir que estava a ser um privilegiado, por poder viver aqueles momentos na história daquele país, que por força de toda a repressão e por força de ser um país totalmente fechado ao exterior, me davam a oportunidade, muitas vezes egoísta, de ver uma realidade perfeitamente histórica, espontânea e onde não existia ainda uma ponta de influência da globalização.

Os hábitos, a cultura, as tradições, as pessoas, pareciam saídas de há 100 anos atrás, eram intemporais e isto sei que não terei no futuro provavelmente a oportunidade de repetir.

Não me esqueço também do que vivi e especialmente do que ouvi daquelas pessoas. Pessoas simples, espontâneas, alegres, tímidas, simpáticas e especialmente, pessoas com medo, que entre uma sombra e outra num templo, me segredavam a medo “please talk about us in your country, say what´s happening here…”

Eram pessoas, que a única arma que tinham eram os escassíssimos turistas com que se deparavam e a sua esperança residia apenas na divulgação destes ao Mundo do terror que viviam diariamente.

Senti-me muitas vezes culpado em consciência, por achar que não fazia o suficiente por estas pessoas, porque sem querer, tinha-me sido dado um papel que talvez não o conseguisse desempenhar. Lembrava-me muitas vezes destas pessoas e as manifestações de 2007, foram o rastilho que me fizeram começar a escrever.

Na altura e pelas razões que referi, escrevi apenas sobre a Birmânia, não quis “macular” este objectivo dispersando a atenção sobre o resto da viagem.

Acho que o maior orgulho que tenho no que se refere a este blog, que não tem qualquer pretensão, para além provavelmente desta inicial, é o facto de já várias pessoas me terem confidenciado que visitaram a Birmânia após lerem os meus posts.

Desta forma, considero, que por mais pequeno que tenha sido, dei também o meu contributo para a felicidade daquelas pessoas, que embora não o saibam, por mais que eu lhes dê, nunca será o suficiente para compensar o que delas recebi...

É chegado o tempo de “fechar” a narrativa completa desta viagem. Falta a nossa passagem pela Tailândia ou melhor por Bankok e pelo Cambodja, já que toda a viagem à Birmânia está aqui!

Bankok ou será Bangkok, talvez Banguecoque,… Aqui vamos nós!


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